Redes sem fio no Mundo em Desenvolvimento

Em 1998 realizei meu sonho de voltar para o sul, para a cidade de Arroio do Meio onde passei boa parte da minha infância e praticamente todas as férias da minha adolescência. Eu acabara de sair da Compaq (que havia comprado a Tandem e depois foi comprada pela HP) e tinha algum dinheiro no bolso para gastar. Com meus primos e mais um sócio montamos um provedor de acesso à internet na cidade vizinha de Lajeado, em parceria com o centro universitário local, Univates. O Fábio Wiebbelling (que anos mais tarde foi um dos fundadores da Solis, assim como eu) era o chefe do CPD da Univates e o responsável por tudo o que dizia respeito a redes. Ele já havia montado um pequeno provedor que, com os recursos da nova sociedade, foi ampliado. De seis linhas discadas partimos para 30 linhas a 28 kbps! Uma maravilha para a época e para a região.

Lembrei muito deste período enquanto eu e a Joice traduzíamos para o português o livro Redes sem fio no Mundo em Desenvolvimento, que acaba de ser lançado. Lá no final dos anos 90, toda a documentação que tínhamos disponível estava em inglês. E mesmo em inglês, como o que estávamos fazendo estava em sintonia com tudo o que de mais novo também estava sendo feito, não raro alguns de nossos posts em uma ou outra lista de discussão mostravam que estávamos na crista da onda da tecnologia. O Fábio ainda pôde comprovar isto quando fomos juntos à Linux World de 1999 -- aquela que aparece no filme The Code Linux, onde apareço convidando o Linus Torvalds para vir ao Brasil. Nas reuniões das quais participávamos (sessões "birds-of-a-feather"), para as quais íamos cheios de perguntas, também contribuíamos bastante com respostas para os demais. Especialmente o Fábio, que tinha na cabeça todos os esquemas de numeração IP, redes, subredes, tradução de endereços, bridges, gateways, etc. Eu confesso que só fui entender, de verdade, a notação CIDR para endereços IP na tradução do livro e, ainda assim, tenho que voltar para uma espiadinha.

Um livro como este, naquela época, faria toda a diferença do mundo. Especialmente quando começamos a nos aventurar com redes wireless. Uma das cenas que voltaram à minha cabeça enquanto traduzíamos o capítulo 4, Antenas e Linhas de Transmissão, foi a do Fábio na janela do CPD (que ficava no terceiro andar) "mirando" o Parque do Imigrante com uma antena de microondas enquanto monitorava a intensidade do sinal. Nós ainda não tínhamos ouvido falar das ferramentas para projeto de rede do Green Bay Professional Packet Radio nem do Radio Mobile. Depois de instalada nossa torre estaiada, chegamos a cobrir distâncias de várias dezenas de quilômetros com redes sem fio. Em condições favoráveis de topografia e clima é possível atingir centenas de quilômetros e o livro relata também como isto foi feito em situações reais.

É justamente com o relato destas situações que o livro serve a seu propósito: mostrar que, com baixo custo e com base em experiências consagradas, é possível levar o alcance da Internet a qualquer lugar do mundo. Muitas destas experiências são a evolução de muitos anos na aplicação prática de uma tecnologia que está cada vez mais popular, barata e eficiente. Assim como se fala cada vez mais em TV digital, há que se lembrar que tudo começou lá na virada do século XIX para o XX, com o padre gaúcho Landell de Moura. A tecnologia wireless usa o mesmo meio de transmissão que o padre Landell já usava e tudo o que há na teoria física de ondas é verdade na implantação de qualquer enlace sem fio.

Deixo aqui um abração ao Fábio, uma das pessoas com quem mais aprendi em toda a minha vida, e um convite a todos para que visitem a página do livro Redes sem fio no Mundo em Desenvolvimento.

Abraço também ao Timothy Ney e ao Marco Figueiredo, que fizeram a ponte para que este trabalho chegasse até nós!

Artigo produzido para o Dicas-L



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