Linus Torvalds

Concorri ao Oscar de melhor ator coadjuvante em um filme estrelado pelo Linus Torvalds! O filme "The Code", do diretor finlandês Hannu Puttonnen, foi lançado em 2003 e tive a grande honra de ganhar o DVD de presente do Jon "maddog" Hall. Lá pela metade do filme apareço eu, belo e faceiro, convidando o Linus a participar de nosso 1.o Fórum Internacional de Software Livre, que aconteceria no ano seguinte. Esta foi a primeira vez em que me apresentei ao Linus. Até a quarta vez em que fomos apresentados ele ainda não lembrava dos encontros anteriores. Só depois que o Maddog nos apresentou em novembro de 2001, na 5th Annual Linux Showcase and Conference, quando comíamos o bolo em homenagem aos dez anos do Linux, foi que ele passou a lembrar. Não sei se ainda lembra! Tudo o que está escrito neste parágrafo é verdade, menos a história do Oscar...

Em agosto de 1999 participei da LinuxWorld em San Jose, na Califórnia. Junto comigo estava o Fábio Wiebbelling, hoje proprietário da ITS e associado da Solis. Na época, pesquisávamos alternativas para a construção de um sistema de gestão acadêmica baseado em softwares livres e abertos para a Univates. Para aproveitar melhor o evento, nos dividíamos entre palestras, tutoriais, juntávamos as informações e trocávamos idéias nos intervalos do evento e à noite no hotel.

No segundo dia do evento, acabei indo parar em uma palestra onde eu (e logo vi que mais gente) esperava um painel sobre metodologias de desenvolvimento e acabei assistindo à propaganda de um produto. A sala esvaziou-se em poucos minutos e formulários de avaliação, muito negativa, foram entregues à recepcionista. Como o Fábio ainda estava assistindo à outra apresentação, sentei-me em uma sala vazia e comecei a escrever minhas observações. Uns 20 minutos depois sentou-se a meu lado um jornalista independente, cujo nome, infelizmente não lembro, e perguntou-me a que órgão de imprensa eu pertencia. Respondi "nenhum" e fiquei sabendo que naquela sala só estavam entrando jornalistas credenciados para a coletiva com o Linus Torvalds. Enquanto conversávamos, a sala começou a lotar e eu, obviamente, fiquei por lá. Daí há pouco entra o Linus e ouvi, pela primeira vez, ele responder à perguntas que foram se repetindo por anos e anos a fio. Foi também a primeira vez em que ouvi ele dizer que criou o Linux, principalmente, "just for fun".

Foi neste mesmo evento que conheci o maddog. Pude trazê-lo ao Brasil, para Recife, algum tempo depois, e começamos uma boa e duradoura amizade. Em uma conversa, lembrando desta LinuxWorld de 1999, o maddog me dizia que o Linus, recém-chegado à Califórnia, estava muito pouco à vontade com todo o assédio. Logo após a coletiva, Linus iria falar para o grande público no auditório principal do evento. Nos bastidores, ele dizia ao maddog que não sabia o que dizer, que se perguntassem qualquer coisa que não fosse relacionada ao kernel ele ficaria mudo, coisas assim. Eu estava na platéia, vi o Linus ser apresentado, entrar, ficar alguns segundos em um silêncio desconfortável após os aplausos e afinal dizer: "Eu sou o seu Deus!". A platéia veio abaixo! Quem estava sentado mais ao fundo tomou os corredores mais à frente, no auditório, e por cerca de uma hora Linus falou sobre o kernel.

Praticamente em todas as ocasiões (não foram tantas) em que encontrei-me com o Linus tentei convencê-lo a participar de um evento no Brasil. Mesmo depois de saber que ele é mais caseiro mesmo e que eventos, antes de ser um prazer, são uma interrupção na rotina profissional e, especialmente, familiar, das quais ele tanto gosta. Dentre os poucos eventos dos quais o Linus participa estão os Kernel Summit, a Linuxconf Austrália (onde a Joice Käfer Marrero presenciou o mesmo ser jogado dentro de uma piscina) e, de tempos em tempos, alguma LinuxWorld nos Estados Unidos. O que pouca gente sabe, porém, é que o Linus já esteve no Brasil, passeando incógnito em Foz do Iguaçu, coisa que nem eu mesmo consegui! Eu estava junto com o maddog e ele foi confundido com o Papai Noel. E eu virei tradutor para o Papai Noel!

No último encontro que tive com Linus, eu contei a ele que minha intenção, com o Linux, era a de diminuir minhas viagens, uma vez que, a partir de 1993, pude ter um Unix em meu computador, que me permitia testar situações em ambientes remotos. Por ironia do destino, entretanto, foi graças ao Linux que passei a viajar ainda mais. Ele respondeu-me que isto era um bom sinal. Enquanto outros viajavam ele não precisava fazer isto! Pode ser que ele nem lembre desta conversa, mas isto ficou para mim como um grande exemplo de que é perfeitamente possível ter uma vida profissional sem deixar de ter alegria. E que a melhor maneira de fazer isto é encontrar um trabalho que possamos fazer "just for fun". Todo o resto vem depois, mas vem bem e na hora certa!

Ah, e pra quem está achando que a história do filme é delírio meu, confere lá no Youtube e assiste a partir dos 44 minutos e 10 segundos! Fá pra selecionar as legendas em português!

Artigo produzido para o Dicas-L



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