Maleiros e Cad

Archimedes. Em 2002 Rasmus Lerdorf, o cara que criou o PHP nos visitou e por causa desta visita "y otras cositas más" surgiu o Miolo. O Rasmus costumava brincar com o pessoal que vinha pedir a ele autógrafos assinando tudo com a frase "show me the code". Desde então, resolvi ser mais cara-de-pau do que já sou e, ao ser apresentado a qualquer idéia de projeto eu pedia que me mostrassem o que já estava escrito ou ao menos um demo funcional. Descobri que esta era a melhor e mais eficiente maneira de espantar fazedores de vapor e "visionários de coisa nenhuma". De idéias o peixe beta das minhas filhas deve estar cheio. Afinal, o bicho fica lá, parado. Morto até que o cutuquem ou o alimentem. Entre cutucos e alimentos o bicho deve pensar um bocado, ter idéias mirabolantes. Mas, como ele nunca colocou nenhuma delas em um projeto interessante, ele segue no aquário.

Pouco espero do peixe. Muito menos espero de muita gente. O peixe eu conheço. Dele tenho a expectativa do nada. Das gentes que mal (ou não) conheço espero qualquer coisa, sem alimentar falsas expectativas. Talvez eu tenha aprendido a ser cético. Mas não um cético sem esperanças.

A LinuxWorld superou qualquer expectativa minha. Fui para o evento para comparar com outras LinuxWorlds das quais participei. O resultado foi excelente! Vi que a verdadeira liberdade está em coisas que realmente acredito. Vi a liberdade exercitada no diálogo dos opostos sentado ao lado do Maddog e do Bill Hilf, buscando desfazer nós históricos, entendando melhor quem somos nós e quais são os verdadeiros "nós".

Tenho a minha cisma com Java, mas não tenho como negar a sua existência. Idem pra DRM, direitos autorais, patentes "y otras cositas más". Gente boa existe, antes e apesar de tudo. Tenho minha cisma com .Net também. Com Mono então, nem falo. Aliás, nem discuto mais.

Bastou um almoço com o Felipe Augusto van de Wiel pra eu entender que, antes de qualquer coisa, o que vale mesmo é a nossa boa intenção ao escrever qualquer código em software livre. Isto está acima de qualquer licença. Já escrevi antes sobre licenças de software, assim, não me repetirei aqui.

De boas intenções, o mundo está cheio. Falta o exercício das mesmas. Vai daí que um guri, o Hugo Corbucci, ouvindo as reclamações de que faltava um AutoCad livre, arregaçou as mangas, montou uma equipe que não dá um time de futebol e rapidinho escreveu o Archimedes (http://codigolivre.org.br/projects/archimedes), um Cad livre que vai, dado o devido tempo (mais 18 ou 24 meses) ser uma alternativa viável para ferramentas proprietárias. É impressionante o que a última versão para download já contempla e o orgulho que a equipe não esconde ao demonstrá-la.

Visitar o Hugo e ver o entusiasmo de sua equipe me fez lembrar da fundação da Solis, já vão três anos. Três anos quando se tem vinte e poucos (não o meu caso, claro, mas de boa parte da equipe da Solis e do pessoal do Archimedes) é um tempo considerável. Vejo o pessoal que fundou a Solis participando com um estande nesta LinuxWorld, ladeado por HP, RedHat, Intel e outras grandes, alinhavando e expandindo parcerias com empresas como a 4Linux. Vejo a Solis tornando-se cada vez mais conhecida no mercado e mantendo sua simpatia com a comunidade -- Hélio Chissini de Castro, Sulamita Garcia, Fabi Iglesias, Maddog (apenas para citar alguns cujos nomes aparecem com freqüência aqui na Br-Linux) fizeram do estande da Solis seu ponto de encontro -- além de lugar para guardar as malas, manter os e-Mails e trabalhos em dia. Um lar para amigos dentro de um evento corporativo.

Em três anos ou menos será a turma do projeto Archimedes a ter um estande em um evento do porte da LinuxWorld. De preferência, vizinho da Solis pra que a gente possa comprar em conjunto um maleiro e, enquanto estivermos fazendo negócios, garantirmos junto um espaço para a comunidade e as pessoas das quais a gente gosta.

Texto publicado originalmente no Br-Linux.



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